O lema, cunhado nos anos da década
de 1960, foi uma reação natural de artistas e intelectuais ao regime de
supressão de liberdades imposto pela ditadura militar no Brasil. A frase fazia
sentido naquele contexto histórico, serviu de bandeira a todos aqueles que
clamavam por liberdade. Hoje, contrariamente, parece tudo estar permitido, num
movimento pendular muito típico do modo de ser dos seres humanos. Este
sentimento de que é proibido proibir, num momento de quase completa
libertinagem em nossa sociedade, é absolutamente nefasto.
Vivemos tempos de individualismo
exacerbado, de hipercompetição, da negação da alteridade, da afirmação pelo
alcance do sucesso social a qualquer preço, da substituição do ser pelo ter e,
até mesmo, pelo simples parecer ter, tudo isso contribuindo para uma epidemia
mundial de estresse. A possibilidade de dizer não, de colocação de limites, é
questionada como manifestação de resquícios de autoritarismo, de repressão.
Como resultado, pais e educadores sentem-se tolhidos no exercício de seus
papéis sociais. Confunde-se o exercício da autoridade quando ela se faz
necessária com o puro e simples autoritarismo. Aos pais é imputada toda a
responsabilidade, quando não a culpa, pela dificuldade no diálogo com seus
filhos. Aos professores, culpa-se pelo mau desempenho escolar e comportamento
agressivo dos alunos. Pela televisão, pela leitura dos jornais e pelo exercício
da clínica psicoterapêutica vêem-se os professores acuados moral e, cada vez
mais, fisicamente, pelos alunos. As
cidades vivem a desordem urbana, os marginais cada vez mais usurpando o poder
dos governantes. A sociedade pede providências, exige ação de seus governantes.
No plano individual as pessoas sentem-se muito ciosas de seus direitos, como
algo que lhes foi sonegado durante os anos de chumbo, e não aceitam limites.
Mas a contrapartida a esses direitos, os deveres do cidadão, parece cada vez
menos imbuída nessas mesmas pessoas. No plano social o “É Proibido Proibir”, o laissez faire, a falta do exercício da
autoridade tem feito muito mal às sociedades, da lassidão dos costumes às periódicas
crises do capitalismo. Quando, no regime capitalista, se levam às últimas
consequências crenças dos fundamentalistas de mercado na “mão invisível que
regula os mercados” e no “quanto menos governo, melhor” apregoado pelo
neoliberalismo, pode-se chegar ao total caos nos mercados. Tal situação é
atingida nas recorrentes crises econômico-financeiras que assolam o mundo, como
já acontecera a partir do célebre crack da
Bolsa norte-americana em 1929. Diametralmente oposto ao fundamentalismo do
mercado está a exacerbação do planejamento centralizado, na desenfreada
estatização da atividade econômica, podendo, no extremo, levar ao stalinismo.
Nesse caso, o que é completamente proibida é a livre iniciativa. Tanto uma
quanto outra dessas formas extremas de organização econômica das relações
humanas levaram os países que as escolheram a sérias crises. O provérbio romano
diz que a virtude está no meio. Talvez a melhor forma de se atentar para este
conselho seja a de se buscar uma combinação entre pilares do capitalismo, como
a livre iniciativa, e do socialismo, como a presença do estado no papel de
agente regulador e controlador.
José Antonio de
Carvalho e Silva é autor do livro Estresse no Trabalho: Machismo e o Papel da Mulher.
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