28 de out. de 2011

Artigo: É Proibido Proibir? Autor: José Antônio de Carvalho e Silva


        
            O lema, cunhado nos anos da década de 1960, foi uma reação natural de artistas e intelectuais ao regime de supressão de liberdades imposto pela ditadura militar no Brasil. A frase fazia sentido naquele contexto histórico, serviu de bandeira a todos aqueles que clamavam por liberdade. Hoje, contrariamente, parece tudo estar permitido, num movimento pendular muito típico do modo de ser dos seres humanos. Este sentimento de que é proibido proibir, num momento de quase completa libertinagem em nossa sociedade, é absolutamente nefasto.
            Vivemos tempos de individualismo exacerbado, de hipercompetição, da negação da alteridade, da afirmação pelo alcance do sucesso social a qualquer preço, da substituição do ser pelo ter e, até mesmo, pelo simples parecer ter, tudo isso contribuindo para uma epidemia mundial de estresse. A possibilidade de dizer não, de colocação de limites, é questionada como manifestação de resquícios de autoritarismo, de repressão. Como resultado, pais e educadores sentem-se tolhidos no exercício de seus papéis sociais. Confunde-se o exercício da autoridade quando ela se faz necessária com o puro e simples autoritarismo. Aos pais é imputada toda a responsabilidade, quando não a culpa, pela dificuldade no diálogo com seus filhos. Aos professores, culpa-se pelo mau desempenho escolar e comportamento agressivo dos alunos. Pela televisão, pela leitura dos jornais e pelo exercício da clínica psicoterapêutica vêem-se os professores acuados moral e, cada vez mais, fisicamente, pelos alunos. As cidades vivem a desordem urbana, os marginais cada vez mais usurpando o poder dos governantes. A sociedade pede providências, exige ação de seus governantes. No plano individual as pessoas sentem-se muito ciosas de seus direitos, como algo que lhes foi sonegado durante os anos de chumbo, e não aceitam limites. Mas a contrapartida a esses direitos, os deveres do cidadão, parece cada vez menos imbuída nessas mesmas pessoas. No plano social o “É Proibido Proibir”, o laissez faire, a falta do exercício da autoridade tem feito muito mal às sociedades, da lassidão dos costumes às periódicas crises do capitalismo. Quando, no regime capitalista, se levam às últimas consequências crenças dos fundamentalistas de mercado na “mão invisível que regula os mercados” e no “quanto menos governo, melhor” apregoado pelo neoliberalismo, pode-se chegar ao total caos nos mercados. Tal situação é atingida nas recorrentes crises econômico-financeiras que assolam o mundo, como já acontecera a partir do célebre crack da Bolsa norte-americana em 1929. Diametralmente oposto ao fundamentalismo do mercado está a exacerbação do planejamento centralizado, na desenfreada estatização da atividade econômica, podendo, no extremo, levar ao stalinismo. Nesse caso, o que é completamente proibida é a livre iniciativa. Tanto uma quanto outra dessas formas extremas de organização econômica das relações humanas levaram os países que as escolheram a sérias crises. O provérbio romano diz que a virtude está no meio. Talvez a melhor forma de se atentar para este conselho seja a de se buscar uma combinação entre pilares do capitalismo, como a livre iniciativa, e do socialismo, como a presença do estado no papel de agente regulador e controlador.

José Antonio de Carvalho e Silva é autor do livro Estresse no Trabalho: Machismo e o Papel da Mulher.
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