Enfim
um livro que me devolve o clima e o prazer da leitura de meus tempos de
criança, já quase perdidos na mágica sucessão de luas e sóis da construção da
existência.
Taím, milagroso menino dos tempos do
imaginário, que leva o leitor enlevado pelos caminhos do seu mítico Colubandê vivo,
palpitante nos gritos do mico-prego Chico (no livro – Simão), encarapitado nos
estreitos ombros do amigo criança, correndo da “saudosa quase vila de São
Gonçalo” para as areias de Copacabana. Obrigada pelo livro infantil por onde
sopra o frescor da aragem perpassando o cipoal da floresta, numa busca da
harmonia da natureza como símbolo do belo, expressão do bem, sabedoria dos sons
e do silêncio.
As lições sobre meio ambiente
embalam a escrita comovente sobre o mundo de uma criança que sobrevive no
adulto inteligente e sensível, capaz de escrever um livro em versos, para que
as novas gerações de crianças se alumbrem com a liberdade poética de um mundo
onde os seres humanos e não humanos, como na magia do filme- poesia Dersu
Huzalá, se comunicam para a construção do mundo encantado não submetido à
métrica limitadora do tempo e do espaço.Tudo é mito; portanto trans-temporal,
guardando porém o sabor do local,
indelével na afetividade cultivada com
esmero: cheiros, cores, linguagens dos bichos e do vento (vozes da floresta), numa orquestração harmonizada pelas pausas do silêncio para reflexão e
cultivo da memória como singularidades da espécie.
O cenário é um primor do nacionalismo brasileiro cantando em
versos a pujança do verde, azul, amarelo e vermelho, cores refulgentes nas
belas ilustrações que enriquecem o livro, escrito com vocabulário vasto,
classificando e nominando fauna e flora brasileiras, resgatando uma língua
dos humanos com vasta sinonímia, que as
gírias e a linguagem gestual
contemporâneas tendem a diminuir
ou, no limite, suprimir.
Lendo este livro reencontro a essência das fábulas, do raconto e das
narrativas de todas as civilizações que construíram a cultura humana, como a
engenhosa sabedoria das peças de Esopo (as explicações da Suçuarana nocauteada
pela inteligência de Simão). Do cancioneiro romântico do Brasil, estão
presentes Casimiro de Abreu e Gonçalves Dias nos versos: Lá no pasto, bem
longe mugiam as Vacas voaram Andorinhas, Xexéus, Aratacas...
A concepção da essência do bem, como cantava Nelson Cavaquinho que
tanto desejou Viver para ver a maldade desaparecer... está representada
pelas imagens: Bandos de Macacos e Onças ensopados Curtem com os lagartos banhos de sol.
Enfatizo também nesta
leitura o precioso registro folclórico de cantigas de crianças, do tempo em que
a humanidade não se dividia entre “produtores e consumidores” de música porque,
utilizando o próprio corpo como idiofone, do desenvolvimento cultural da
espécie fazia parte o canto como manifestação de alegria, liberação de energias
represadas e criação poético-musical.
Completando trabalho tão primoroso, as últimas quatro páginas são
compostas por excelente glossário que desenvolve, em crianças e adultos, o
gosto pela pesquisa em dicionário, como prática de domínio linguístico,
exigência para o exercício do raciocínio abstrato, cujo principal instrumento é
a palavra.
Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros (Antropóloga)
Dados Técnicos:
A Onça, o macaco e o vento
Carlos Taim
ISBN: 978-85-7543-129-0
Edições Muiraquitã
Formato: A4
Páginas: 52
Preço de capa: R$25,00
SOBRE O AUTOR
Carlos Taim (Carlos Hermann Corner)
Nasceu no
bairro Cosme Velho, Rio de Janeiro, onde morou até os sete anos de idade.
Fez o antigo Curso Primário na Escola Mackenzie em São Paulo, depois, com a
mudança da família para um sítio em Colubandê, São Gonçalo,terminou o segundo
gráu no Colégio Brasil em Niterói.
Desde
muito cedo foi compelido pelos pais a exercer a profissão de engenheiro civil,
a mesma de seu avô paterno, de seu pai e de três tios, o que cumpriu
formando-se em Curitiba.
De volta a São Gonçalo, exerceu a profissão
até a aposentadoria, convivendo serenamente com as atividades tecnológicas e o
diletantismo na busca das criações artísticas, fruto da herança materna. A mãe,
Ilná Pontes de Carvalho era poetiza de Belém do Pará. Tomando consciência disto,
sua meta foi sempre a poesia e o teatro. Escreveu e montou a peça
infanto-juvenil Brincando com a Máquina do Tempo no Teatro Opinião em
Copacabana na década de 70.
Mora
atualmente em Niterói, onde escreveu o presente poeminha travesso e
acumula na gaveta material para um futuro livro de poesias.
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