19 de abr. de 2013

Conheça as aventuras da Onça, o Macaco e o Vento


            Enfim um livro que me devolve o clima e o prazer da leitura de meus tempos de criança, já quase perdidos na mágica sucessão de luas e sóis da construção da existência.
            Taím, milagroso menino dos tempos do imaginário, que leva o leitor enlevado pelos caminhos do seu mítico Colubandê vivo, palpitante nos gritos do mico-prego Chico (no livro – Simão), encarapitado nos estreitos ombros do amigo criança, correndo da “saudosa quase vila de São Gonçalo” para as areias de Copacabana. Obrigada pelo livro infantil por onde sopra o frescor da aragem perpassando o cipoal da floresta, numa busca da harmonia da natureza como símbolo do belo, expressão do bem, sabedoria dos sons e do silêncio.
            As lições sobre meio ambiente embalam a escrita comovente sobre o mundo de uma criança que sobrevive no adulto inteligente e sensível, capaz de escrever um livro em versos, para que as novas gerações de crianças se alumbrem com a liberdade poética de um mundo onde os seres humanos e não humanos, como na magia do filme- poesia Dersu Huzalá, se comunicam para a construção do mundo encantado não submetido à métrica limitadora do tempo e do espaço.Tudo é mito; portanto trans-temporal, guardando  porém o sabor do local, indelével na afetividade cultivada com esmero: cheiros, cores, linguagens dos bichos e do vento (vozes da floresta), numa orquestração harmonizada pelas pausas do silêncio para reflexão e cultivo da memória como singularidades da espécie.
O cenário é um primor do nacionalismo brasileiro cantando em versos a pujança do verde, azul, amarelo e vermelho, cores refulgentes nas belas ilustrações que enriquecem o livro, escrito com vocabulário vasto, classificando e nominando fauna e flora brasileiras, resgatando uma língua dos humanos com vasta sinonímia, que as gírias e a linguagem gestual  contemporâneas tendem  a diminuir ou, no limite, suprimir.
Lendo este livro reencontro a essência das fábulas, do raconto e das narrativas de todas as civilizações que construíram a cultura humana, como a engenhosa sabedoria das peças de Esopo (as explicações da Suçuarana nocauteada pela inteligência de Simão). Do cancioneiro romântico do Brasil, estão presentes Casimiro de Abreu e Gonçalves Dias nos versos: Lá no pasto, bem longe mugiam as Vacas voaram Andorinhas, Xexéus, Aratacas...
A concepção da essência do bem, como cantava Nelson Cavaquinho que tanto desejou Viver para ver a maldade desaparecer... está representada pelas imagens: Bandos de Macacos e Onças ensopados  Curtem com os lagartos banhos de sol.
 Enfatizo também nesta leitura o precioso registro folclórico de cantigas de crianças, do tempo em que a humanidade não se dividia entre “produtores e consumidores” de música porque, utilizando o próprio corpo como idiofone, do desenvolvimento cultural da espécie fazia parte o canto como manifestação de alegria, liberação de energias represadas e criação poético-musical. 
Completando trabalho tão primoroso, as últimas quatro páginas são compostas por excelente glossário que desenvolve, em crianças e adultos, o gosto pela pesquisa em dicionário, como prática de domínio linguístico, exigência para o exercício do raciocínio abstrato, cujo principal instrumento é a palavra.
                                    Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros (Antropóloga)
Dados Técnicos:
A Onça, o macaco e o vento
Carlos Taim
ISBN: 978-85-7543-129-0
Edições Muiraquitã
Formato: A4
Páginas: 52
Preço de capa: R$25,00



SOBRE O AUTOR

Carlos Taim  (Carlos Hermann Corner)             

Nasceu no bairro Cosme Velho, Rio de Janeiro, onde morou até os sete anos de idade.
Fez o antigo Curso Primário na Escola Mackenzie em São Paulo, depois, com a mudança da família para um sítio em Colubandê, São Gonçalo,terminou o segundo gráu no Colégio Brasil em Niterói.
Desde muito cedo foi compelido pelos pais a exercer a profissão de engenheiro civil, a mesma de seu avô paterno, de seu pai e de três tios, o que cumpriu formando-se em Curitiba. 
De volta a São Gonçalo, exerceu a profissão até a aposentadoria, convivendo serenamente com as atividades tecnológicas e o diletantismo na busca das criações artísticas, fruto da herança materna. A mãe, Ilná Pontes de Carvalho era poetiza de Belém do Pará. Tomando consciência disto, sua meta foi sempre a poesia e o teatro. Escreveu e montou a peça infanto-juvenil Brincando com a Máquina do Tempo no Teatro Opinião em Copacabana na década de 70.
Mora atualmente em Niterói, onde escreveu o presente poeminha travesso e acumula na gaveta material para um futuro livro de poesias.

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